21 de agosto de 2009

Via Sacra tinha um público amplo: de punks a protogóticos

Ping-pong com o ex-baixista do Via Sacra Marcos Rodrigues (atual Theatro de Seraphin).
Ao tempo em que fala sobre sua antiga banda, ele descreve a cena rocker de Salvador nos anos 80.

Foto: Lia Seixas
+ Como surgiu a banda?


A idéia de uma banda surgiu entre vizinhos de um condomínio no bairro de Brotas, por volta de 1984. Na época a idéia era ter uma banda como o Camisa de Vênus. Tínhamos por volta dos 16 anos e, com mais informação, mudamos o rumo do som para um misto de hardcore californiano com as harmonias dissonantes de bandas do postpunk inglês como Fall e Bauhaus.

+ Como vocês chegaram a esse nome?

Como todas as bandas, tínhamos uma lista de nomes. Mas a possibilidade de cutucar a Igreja Católica e de nos aproximarmos da estética gótica acho que foram decisivas.

+ Onde ensaiavam?

Num porão, abaixo das garagens do edifício em que morávamos. Underground é isso :)

+ Como era a oferta de espaços para shows nos anos 80?

Apesar da precariedade técnica, estava melhor que hoje. Tinha o Graffite, Paris Latino, Manga Rosa, Água de Mar, Revolution Bar; os circuitos de teatros como o Solar Boa Vista, Teatro das Oliveiras (Severino Vieira) e até o Vila Velha; os festivais de colégios e, no nosso caso, todos os inferninhos punks pelo Subúrbio Ferroviário, além de algumas cidades do interior, como Alagoinhas, Cruz das Almas e Itabuna.

+ A violência de alguns punks nos shows da Dever de Classe foi uma das causas do fim daquela banda. Vocês também enfrentavam esse tipo de situação?

Em menor escala. A Dever de Classe era a principal banda punk da cidade por volta de 86, 87, da galera mais militante. A Via Sacra tinha um público mais amplo que incluía punks, postpunks, protogóticos e outros menos rotulados.
Mas tivemos alguns problemas quando alguns carecas começaram a frequentar nossos shows. Os mais graves foram quando os carecas cortaram as costas do artista plástico Rico Oliveira com chicotadas de cabo de aço, num final de show nos barracões da Escola de Belas Artes. E num show num boteco do Rio Vermelho (esqueci o nome), quando tivemos que parar porque os caras entraram com uma faca. Mas eles curtiam o som da Via Sacra e fomos poupados :)
Muitos eram ex-punks que acompanhavam a banda há algum tempo. Infelizmente alguns confundiam tudo e partiam pra irracionalidade.

+ Qual foi o motivo da dissolução da banda, em 1991?

Contas a pagar :)
Ter que arranjar trampo sério.
A faculdade de todo mundo tava no fim e seriamos ex-estudantes e futuros desempregados :)
Também a cena começava a mudar. A gente não tava a fim de ficar tocando para a crescente horda de skatistas alienados que ouviam Dead Kennedys e achavam que isso era tudo. Muito babaca enchendo os shows. Foi a virada pros 90, início da MTV no Brasil e a entrada daqueles sons puladinhos de Red Hot Chilli Peppers e Cia ltda. Hora de dar um tempo.

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