6 de agosto de 2009

Dedicado a absolutamente ninguém

Uma raridade de 1981 enviada pelo Koyote Miguel Cordeiro: a capa e o editorial (ou anti-dedicatória) do fanzine Delirium Tremens número 1.

Leia abaixo um depoimento de Miguel.


DELIRIUM TREMENS - O FANZINE

Por Miguel Cordeiro

Karl Franz Hummel estava na Europa fazendo um curso logo após ter concluído a faculdade e o Camisa de Vênus estava dando um tempo em suas atividades esperando a volta do seu guitarrista.

A anarquia apocalíptica tinha de ter prosseguimento e o ano de 1981 precisava de algumas ações para ajudar a sacudir o marasmo que sempre (sempre!!) esteve presente em Salvador da Bahia.

Bem, de nossa parte a peteca não caía e desde 1978/79 eu espalhava os grafites do Faustino pela cidade e Marcelo Nova comandava o programa Rock Special na Rádio Aratu. E conseguíamos uma resposta surpreendente do público às nossas atividades.

Em meados de 1981, numa conversa entre mim e Marcelo surgiu a idéia da gente fazer um fanzine em xerox para dar vazão ao turbilhão de propostas que tínhamos em mente. O nome escolhido para o fanzine foi Delirium Tremens. E com a ajuda e participação igual de Rosana Almeida e Marla Nova, reunimos desenhos e textos e passamos a nos dedicar a esse projeto.

Estávamos conscientes do que queríamos e fazíamos questão de marcar um outro território na cultura local. Logo na página de apresentação colocamos uma espécie de anti-homenagem com os dizeres:


"Delirium Tremens não é inspirada em:..."

E, então listamos alguns personagens e temas que não desejávamos, em hipótese alguma, ter o nosso trabalho ligado.

Nesta lista, pela primeira vez, é citada a famigerada (para nós, graças a Deus!) cultura axé, representada ao nosso ver pelo "pessoal do axé"; além de outros medalhões da baianidade. De nossa parte, a tal cultura baiana - que começava a ganhar força com o apoio oficial - foi uma escolha intencional e proposital como alvo e algo totalmente antagônico e contrário à nossa proposta artística.

Com quinze dias reunimos todo material e o reproduzimos, de maneira clandestina, nas copiadoras xerox da Telebahia e da Rádio Aratu, locais onde eu e Marcelo, respectivamente, trabalhávamos. E numa tarde de sábado, já com as cópias prontas, montamos cerca de 700 (setecentos) exemplares do Delirium Tremens.

Depois conseguimos fazer o lançamento do fanzine numa festa na casa noturna Dose Dupla, e assim o Delirium Tremens começou a circular na cidade. Em pouco tempo todos os exemplares evaporaram. Ainda tive o cuidado de enviar um deles para uma revista do sul do país de fotografia e cultura em geral de nome Íris, e ela deu um bom e inesperado destaque à nossa publicação.

Também fizemos um segundo número, melhor ainda que o anterior, mas em quantidade bem menor. Uma outra alegria é que o nome do nosso fanzine serviu como inspiração para batizar outra grande banda de rock de Salvador, a Delirium Tremens, de Hélio Rocha, Jerry Marlon, Marcão Botelho e João Maia.

No entanto, numa dessas manobras do destino, não guardei, nem como lembrança, um exemplar sequer do nosso comentado e lendário fanzine.

Este primeiro número me foi presenteado meses atrás por Tony Lopes, baterista da banda que faço parte, Koyotes. E se alguém ainda tiver uma cópia do número 2 do Delirium Tremens e quiser me passar, eu agradeço. Nem que seja em arquivo eletrônico.

+++

2 comentários:

  1. eduardo silveira6/8/09 00:30

    rapaz. isso é uma relíquia e eu lembro que jorginho e albertinho santana tirou cópias deste fanzine e distribuiu num show do circo relâmpago. grande miguel ladrão de banco

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  2. Belo post Marcão! Manda um abraço pra Miguel.

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